sábado, 7 de novembro de 2015

285 - Mudanças ambientais podem explicar o surgimento do povo israelita, Israel Finkelstein. Jornal Folha de S.Paulo.




Amostras de pólen obtidas no leito do mar da Galileia e do mar Morto podem ser a pista que faltava para explicar como surgiu o povo israelita, cuja religião deu origem ao judaísmo e ao cristianismo.
Segundo pesquisadores israelenses, os dados sugerem que, a partir de 1250 a.C., várias ondas prolongadas de seca devastaram a Terra Santa ao longo de um século e meio, fazendo com que bandos de refugiados fundassem novas comunidades na zona montanhosa da região. Esses novos vilarejos acabariam levando à formação dos antigos reinos de Israel e Judá.
Um dos que propõem essa tese é o arqueólogo Israel Finkelstein, da Universidade de Tel Aviv. O trabalho dele tem ajudado a repensar a relação entre os relatos da Bíblia, de um lado, e os dados históricos e arqueológicos, de outro.
Finkelstein conversou com a Folha durante sua visita ao Brasil na primeira semana de outubro, quando participou de conferências organizadas pela Universidade Metodista de São Paulo e pela Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica.

RESOLUÇÃO
"O grande diferencial desse nosso novo trabalho é a resolução", explica o arqueólogo. "Normalmente as amostras possuem uma resolução de uns 200 anos por camada. Nós conseguimos obter dados detalhados que se referem apenas à transição entre a Idade do Bronze e a Idade do Ferro [grosso modo, entre 1300 a.C. e 1000 a.C.], com resolução de 25 anos a 40 anos."
São dados, portanto, que funcionam como uma espécie de cápsula do tempo. Conforme o pólen ia sendo depositado no fundo do mar da Galileia e do mar Morto, numa ordem que vai do mais antigo ao mais recente, ele passou a formar um registro das mudanças ambientais pelas quais o Oriente Médio estava passando ao longo das décadas.
A análise do pólen permite determinar tanto o tipo quanto a quantidade de vegetação que existia no entorno desses corpos d'água (apesar do apelido de "mar", eles não passam de grandes lagos). E foi assim que Finkelstein e seus colegas arqueobotânicos (que estudam as plantas do passado) acharam indícios de secas prolongadas numa região que já não é célebre pela abundância de água. Uma palavra resume as consequências das ondas de secura: caos.
Como os arqueólogos já sabiam, entre 1250 a.C. e 1100 a.C. os grandes impérios do Mediterrâneo na Idade do Bronze entram em colapso. Deixam de existir o Império Hitita, na atual Turquia, os reinos micênicos, na atual Grécia, e até o poderoso Egito mal consegue escapar.
Antes da catástrofe, os faraós dominavam todo o atual território israelense, palestino e libanês, além de vastas áreas da Síria e da Jordânia modernas.
Tudo indica que as alterações climáticas geraram tanto rebeliões internas (muito provavelmente ligadas às colheitas que não estavam vingando) quanto estimularam o ataque de tribos bárbaras (e famintas) às cidades do Oriente Médio.
"A ideia é que isso desestabilizou totalmente tanto as populações que viviam em áreas de estepe, a leste do rio Jordão, quanto muitos dos moradores das cidades-Estado do litoral", conta Finkelstein. De quebra, algumas dessas cidades estavam sendo atacadas e destruídas por invasores, como os filisteus.
A região montanhosa no centro da Terra Santa, hoje correspondente, grosso modo, à Cisjordânia, era o lugar ideal para fugir do caos e da fome porque era uma área pouco povoada na época, além de relativamente fértil e não tão seca quanto outras áreas da vizinhança.
De fato, nas fases finais do colapso dos impérios da Idade do Bronze, é ali que começam a pipocar centenas de vilarejos rurais, com localizações associadas ao que seria, segundo a Bíblia, o território original das tribos israelitas.
Segundo esse cenário, hoje aceito pela maioria dos arqueólogos, o povo de Israel teria surgido dentro da própria Terra Santa (ou Canaã, como era conhecida na Antiguidade), como uma espécie de dissidência dos moradores originais da região, os cananeus.
Argumentos em favor dessa ideia são o fato de que os artefatos dos primeiros vilarejos da região montanhosa são quase idênticos aos dos cananeus que viveram antes ali, além do detalhe de que o hebraico é um dialeto cananeu, muito próximo do fenício (que era falado no atual Líbano).
Ou seja, tanto o êxodo liderado por Moisés quanto a conquista de Canaã liderada por Josué seriam quase totalmente lendários.

CADÊ O SALOMÃO?
Finkelstein também defendeu outra de suas ideias polêmicas que tem ganhado cada vez mais aceitação entre os pesquisadores: a de que as narrativas sobre um glorioso "Reino Unido" israelita, governado inicialmente por David e depois por seu filho Salomão, também é lendária.
O arqueólogo diz que David e Salomão provavelmente são personagens reais, mas que seus feitos foram muito exagerados por seus descendentes como forma de fortalecer os interesses políticos da monarquia de Jerusalém.
"Certamente havia um pequeno núcleo urbano em Jerusalém na época deles [entre 1000 a.C. e 930 a.C.], mas os dois não passavam de chefes militares tribais", argumenta o pesquisador.
Os críticos do trabalho do pesquisador afirmam que ele ignora dados que indicariam a presença de um Estado centralizado na antiga capital de Judá durante a era salomônica.
"O problema de Jerusalém, na minha opinião, é que o núcleo mais antigo da cidade não está na chamada Cidade de David, onde as pessoas conseguem escavar hoje, mas na região do Templo, hoje ocupada pelo Domo da Rocha", diz Finkelstein.
Como se trata de uma das áreas mais sagradas do islamismo, é improvável que os arqueólogos recebam permissão para escavar lá algum dia, afirma ele. 
















quinta-feira, 5 de novembro de 2015

284 - História do movimento cristão mundial, volume II: o Cristianismo moderno de 1454 a 1800. Dale T. Irvin e Scott W. Sunquist



Introdução
A história do movimento cristão mundial tem sido maior do que aquilo que qualquer dos seus participantes jamais imaginou que fosse. É também maior do que qualquer um que tenta escrever sobre ele consegue expressar. Como todas as histórias escritas, esta é incompleta, pois nunca podemos esgotar quer os dados quer as nossas interpretações dos dados. No tocante à história, há sempre mais a pesquisar, mais a estudar e mais a escrever, assim como há sempre mais a fazer. Reconhecer que existe esse excedente tanto na história que é vivida como na história que é pesquisada e escrita serve como uma advertência e também como um incentivo para manter abertos o projeto histórico e os ricos diálogos em andamento. Mas chega a hora em que a elaboração deve ser encerrada, ainda que por um tempo, para que o projeto seja visto. Após mais de uma década de trabalho, que incluiu a colaboração de bom número de especialistas e estudiosos do mundo inteiro, você agora tem em mãos o produto dos esforços deles como o segundo volume da História do movimento cristão mundial. 
Os dois autores deste volume oferecem-no como uma contribuição ao diálogo que, esperamos, não termine tão cedo. Ele não é, de modo algum, a última palavra na história do movimento cristão mundial do século XV ao século XVIII. Ao invés, nós o oferecemos como uma contribuição a mais destinada a ampliar a compreensão coletiva da história do Cristianismo no mundo. Permeando os primeiros dois volumes da História do movimento cristão mundial está a concepção subjacente de que o Cristianismo não foi uma religião europeia que se espalhou por outras partes do mundo pela primeira vez após o ano 1500, como muitas vezes tem sido apresentado. 
O Cristianismo nasceu na juntura de três continentes e, cem anos depois, já estava solidamente estabelecido em cada um deles. No ano 1500, já era algo como uma religião mundial. Tinha se tornado também a religião dominante e estabelecida na Europa Ocidental, como continuou sendo no Império Romano Oriental (ou Bizantino), que tinha como capital Constantinopla. O volume primeiro terminou com a derrota de Constantinopla, em 1453, pelas forças otomanas, e o correspondente fim do Império Romano Oriental (ou Bizantino). Apenas algumas décadas antes as naus portuguesas começaram a se aventurar no sul do oceano Atlântico, ao longo da costa da África, abrindo uma nova era na história mundial. Essa nova era foi logo caracterizada por um desequilíbrio global de poder que permitiu aos europeus dominar muitas outras regiões do globo. O subsequente movimento de pessoas, de bens e ideias que essas viagens facilitaram, também espalhou rapidamente o Cristianismo através do globo terrestre, para mais longe do que tinha estado antes. Comunidades cristãs começaram a se desenvolver em regiões da terra onde anteriormente não existiam, mais notavelmente no hemisfério que passou a ser chamado de América do Sul e do Norte. Embora na maioria dos casos essas comunidades de fé nas novas localidades continuassem a estar relacionadas quanto ao caráter e à expressão com as Igrejas da Europa Ocidental, elas nunca foram simples cópias delas. Em alguns lugares da Ásia e da África, os cristãos da Europa Ocidental encontraram também comunidades cristãs indígenas de várias tradições ortodoxas que já viviam nesses lugares por mais de um milênio. Os resultados desses encontros foram significativos para ambas as partes. Enquanto isso, as Igrejas da própria Europa Ocidental começaram a experimentar, em torno do ano 1500, novas tentativas de reforma que, em alguns casos, levaram a mudanças significativas, mesmo quando procuraram manter a continuidade com o passado histórico cristão, ou pelo menos com aquela porção do passado cristão que elas consideravam determinante para a sua identidade. Assim, o movimento cristão em todo o mundo se viu, após 1453, às voltas com forças irresistíveis de mudança e continuidade em modos novos e contextualmente específicos.

Paulus
2015
P. 620


Dale T. Irvin é Presidente e Professor do departamento de Cristianismo Mundial no Seminário Teológico de Nova York. Filiado a Igrejas Batistas, EUA.









Scott W. Sunquist. Reitor da Escola de estudos interculturais e professor de cristianismo na escola de estudos interculturais




terça-feira, 3 de novembro de 2015

283 - Arqueólogos encontram fortaleza bíblica em Jerusalém




Cidadela de Acra, construída há mais de 2 mil anos, foi um centro de poder e usada para conter a rebelião judaica registrada no livro bíblico dos Macabeus. Buscas já duravam mais de um século.
Depois de mais um século de buscas, arqueólogos afirmam ter encontrado as ruínas de uma antiga fortaleza grega mencionada na Bíblia e solucionado, assim, um dos maiores mistérios arqueológicos de Jerusalém. A cidadela de Acra estava enterrada em um estacionamento da cidade.
"Pesquisadores, juntamente com a Autoridade de Antiguidade de Israel, acreditam ter encontrado as ruínas da fortaleza nas escavações no estacionamento Givati, na cidade de David", anunciou o órgão nesta terça-feira (03/11).
A fortaleza foi um centro de poder e usada para conter a rebelião judaica registrada no livro bíblico dos Macabeus. Acra foi construída há mais de 2 mil anos por Antíoco Epifânio, rei do império selêucida helênico. Pesquisadores tentavam localizá-la há anos.
Muitos acreditavam que a cidadela ocupasse o lugar onde atualmente fica a Cidade Velha de Jerusalém, com vista para a Igreja do Santo Sepulcro ou próximo à colina que abriga o complexo de mesquitas de Al-Aqsa.
Mas as ruínas localizadas em um antigo estacionamento pavimentado ficam fora dos limites da Cidade Velha, com vista para um vale ao sul. Segundo arqueólogos, a região de Acra corresponde ao local onde a construção de Jerusalém se concentrou durante o reinado bíblico de David.
O líder da escavação, Doron Ben-Ami, afirmou que Antíoco, que viveu entre 215 e 164 a.C., escolheu o local para poder controlar a cidade e monitorar as atividades no templo judaico. A fortaleza foi soterrada por uma colina artificial composta por várias camadas de terra deixadas por diferentes culturas.
Entre as ruínas há uma parede maciça, a base de uma torre e de um aterro de defesa, além de artefatos como moedas e alças de jarras de vinho, que parecem ser do período de Antíoco. De acordo com Autoridade de Antiguidade, a torre possui "dimensões impressionantes".
Pedras de estilingues e pontas de flecha de bronze, da mesma época, também foram localizadas na escavação. As peças podem ser remanescentes da batalha entre forças gregas e rebeldes judeus que tentavam tomar a fortaleza.
"Esse é um exemplo raro de como rochas, moedas e terra podem se juntar em um episódio arqueológico único que aborda realidades históricas específicas da cidade de Jerusalém", afirmou Ben-Ami.
Arqueólogos afirmaram ainda que a descoberta permite reconstruir a composição de assentamento na cidade de mais de 2 mil atrás. Acra foi mencionada vagamente em dois textos antigos: o Livro dos Macabeus, que retrata a rebelião, e nos registros do historiador Flávio Josefo.
Na tradição judaica, Antíoco é lembrado com o vilão do feriado Hanukkah que tentou proibir ritos religiosos e provocou a revolta dos Macabeus.
Fonte: terra

CN/rtr/afp


quinta-feira, 29 de outubro de 2015

282 - Teólogos do Novo Testamento


Rudolf Bultmann
Rudolf Karl Bultmann nasceu em Wiefelstede (Oldenburg), na Alemanha, em 20 de agosto de 1884. Filho mais velho de Arthur Bultmann, pastor protestante da Igreja Luterana. Seus avôs paternos foram missionários na África e seu avô materno tinha sido pastor na pietista região sul da Alemanha (GRENZ, OLSON, 2003, p. 102). Bultmann cursou a escola primária em Rastede. O ginásio, em Oldenburg (1895-1903) foi colega do filósofo existencialista Karl Jaspers.[1] No liceu estudou a história da religião, distinguiu-se pelo estudo do grego e da história da literatura alemã (BULTMANN, 1964, p. 335).
Concluído o liceu, iniciou seus estudos teológicos na Universidade de Tübingen, em 1903. No ano seguinte, passou para a Universidade de Berlim e dois anos depois para a Universidade de Marburg. Foi aí que, em 1910, licenciou-se em Teologia, com a tese: O Estilo da Pregação Paulina e a Diatribe Cínico-Estóica, um tema sugerido a ele por Johannes Weiss. Dois anos mais tarde obteve a livre docência, com uma dissertação sobre a Exegese de Teodoro de Mopsuéstia, um tema proposto por Adolf Jülicher.


Günther Bornkamm 
Günther Bornkamm (1905-1990), Teólogo alemão do Novo Testamento, professor de Novo Testamento na Universidade de Heidelberg.
Aluno de Rudolf Bultmann, estudou comErnst Käsemann (Tübingen), Ernst Fuchs(Marburg) e Hans Conzelmann (Göttingen).
Era defensor da segunda busca ao Jesus Histórico, e sugeriu uma apertada relação entre Jesus e a teologia da igreja primitiva. Bornkamm se afastou de Rudolf Bultmann, mas as abordagens são semelhantes em muitos aspectos. O trabalho de Ernst Käsemann também é valioso para a compreensão do trabalho Bornkamm. 
Bornkamm destaca-se pela abordagem sucinta e profunda dos temas, associando rigor cientifico com o senso prático decorrente de sua atividade pastoral. Portanto, suas obras tornaram-se pontos de referência tanto para o especialista quanto para a pessoa cristã ativa que quer aprofundar seu conhecimento das Sagradas Escrituras.


Ernst Käsemann
Ernst Käsemann (1906-1998), teólogo luterano e professor de Novo Testamento em Mainz (1946-1951), Göttingen (1951-1959) e Tübingen (1959-1971).
Käsemann obteve seu PhD em Novo Testamento na Universidade de Marburg, durante 1931, tendo escrito uma dissertação sobre Eclesiologia Paulina, com Rudolf Bultmann como seu orientador de doutorado. Käsemann foi um dos alunos de Bultmann mais conhecido.
Käsemann se juntou a Igreja Confessante em 1933, no mesmo ano, foi nomeado pároco em Gelsenkirchen, em um bairro habitado principalmente por mineiros. Durante 1939, ele completou sua habilitação, que o qualificou para ensinar em universidades alemãs, sua tese foi sobre o Novo Testamento Epístola aos Hebreus.
Käsemann foi posteriormente servir como soldado. Voltou ao seu trabalho teológico, durante 1946, depois de vários anos no exército e como prisioneiro de guerra.
Käsemann inaugurou a conhecida “New Quest para o Jesus histórico” (Nova Busca ao Jesus Histórico), uma nova fase de interesse acadêmico em trabalhar o Jesus Histórico. Käsemann efetivamente começou esta fase, quando ele publicou seu famoso artigo “O Problema do Jesus histórico”, durante 1954, aula inaugural como professor em Göttingen, em 1953.
Käsemann levou a apocalíptica judaica, mais a sério do que a maioria de seus colegas contemporâneos e pensou que fosse de importância vital para uma leitura de Paulo. Na verdade, ele famosamente descreveu apocalíptica como "a mãe da teologia cristã". O comentário de Käsemann sobre a Epístola de Paulo aos Romanos, publicado pela primeira vez em 1973, tornou-se um padrão de trabalho para essa geração.


Werner Kümmel
Werner Georg Kümmel nasceu em 1905, na cidade de Heidelberg, Alemanha. Com 23 anos concluiu o seu doutorado e aos 27 tornou-se professor em Zurique, Suiça. Depois da segunda Guerra Mundial voltou para a Alemanha e ensinou nas universidades de Mainz e de Marburg, onde substituiu o renomado teólogo Rudolf Bultmann. Faleceu em 1995 em Mainz aos 90 anos de idade.
Kümmel é considerado um dos maiores especialistas do Novo Testamento, depois de Bultmann.





Joachim Jeremias
Joachim Jeremias (20 de setembro de 1900 - 6 de setembro 1979) foi um teólogo alemão, professor universitário de Novo Testamento. Ele era abade de Bursfelde, 1968-1971. Nasceu em Dresden e passou seus anos de formação em Jerusalém, onde, entre 1910 e 1918, seu pai, Friedrich Jeremias (1868-1945), trabalhou como reitor da Igreja Luterana do Redentor. Estudou teologia luterana e línguas orientais nas universidades de Tübingen e Leipzig. Em Leipzig obteve título de Doutor em filosofia (1922) e teologia (1923), e livre docência em (1925). Seu mentor foi o renomado Gustaf Dalman.
Depois de outras missões de ensino, Jeremias foi nomeado em 1935 para a cadeira de estudos do Novo Testamento na Universidade Georg-August de Göttingen, onde lecionou até sua aposentadoria em 1968. Em 1976, mudou-se de Göttingen para Tübingen, onde morreu em 1979.
Suas pesquisas e publicações cobriram uma área ampla, variando de histórico e arqueológico de estudos literários e filosóficos. Eles se concentram na Bíblia hebraica e textos rabínicos relevantes para uma análise crítica do Novo Testamento, a fim de reconstruir o ambiente histórico de Jesus em toda a sua complexidade, para fornecer uma compreensão mais profunda de sua vida e ensinamentos.
Suas realizações encontrou reconhecimento nacional e internacional, reconhecido pela admissão na Academia das Ciências de Göttingen, em 1948, e o prêmio de doutor honoris causa das universidades de Leipzig, St Andrews (Escócia), Uppsala (Suécia) e Oxford (Grã-Bretanha). Ele também foi feito um membro da Royal Dutch Academy of Sciences e da Academia Britânica. Finalmente, em 1970, foi feito membro honorário da Deutsche Verein zur Erforschung Palästinas ( associação alemã para a pesquisa sobre a Palestina).
Jeremias trabalhou com Wilhelm Schneemelcher em revisões da coleção Hennecke-Schneemelcher dos Apócrifos do Novo Testamento.



Oscar Cullmann
Oscar Cullmann (1902-1999). Teólogo de confissão luterana e um dos mais notáveis de nosso tempo. Seus trabalhos de história e exegese contribuíram decisivamente para o conhecimento das origens do cristianismo. Seus anos de estudo e docência discorrem entre Estrasburgo e Basiléia. Posteriormente se tornou professor da Sorbonne e da Faculdade de Teologia Protestante de Paris. Além dessas atividades acadêmicas, Cullmann foi presidente da ajuda aos refugiados franceses na Suíça entre 1940-1945. Mais tarde, foi escolhido membro do comitê executivo do Instituto Ecumênico de Jerusalém, fundado em 1967 por Charles Moeller. De 1962 a 1965 participou como observador não católico das quatro sessões do Concílio Vaticano II, diante do qual, praticamente, representou o protestantismo.


Leonhard Goppelt
Nascido a 06 de novembro de 1911, em Munique, na Alemanha no seio da família de um professor. Dedicou-se à exegese e ao estudo da teologia do Novo Testamento, freqüentou o Theresengymnasium. Durante um ano cursou Ciências Naturais e Filosofia, mais resolveu estudar mesmo Teologia na cidade de Tubingen e em Erlangen. O curso Teológico foi concluído em 1935.
Foi admitido em 1938 ao ministério pastoral na Igreja Evangélica Luterana da Baviera. Desde 1936 atuou como Repetidor na Faculdade de Teologia da Universidade de Erlangen, como repetidor cabia repassar com estudantes interessados os conteúdos ministrados nas aulas dos professores-catedráticos. Tendo a oportunidade de dedicar-se a estudos, acadêmicos mais profundos.
Lecionou nas Universidades de Gottingen, Erlangen e no ano se 1949 passou a residir em Hamburgo, fazendo parte do primeiro corpo docente da Faculdade de Teologia da Universidade de Hamburgo, atuando 20 anos.
Em 1950 casou-se com Dora Schlatter, neta do exegeta Adolf Schlatter. Deste matrimonio nasceram duas filhas.
Faleceu no dia 21 de dezembro de 1973 no auge de sua produção teológica, devido a um enfarto. Escreveu o texto Cristianismo e Judaísmo, no primeiro e segundo século e foi publicado em 1954. Sua principal obra é o livro Teologia do Novo Testamento, que foi traduzido para o português.



George Eldon Ladd
George Eldon Ladd (1911-1982) teólogo do Novo Testamento evangélico e professor de exegese do Novo Testamento e teologia no Seminário Teológico Fuller em Pasadena, Califórnia. Principal obra de Ladd, Teologia do Novo Testamento, 1974.
Ladd se converteu ao cristianismo em 1929. Em 1933 foi ordenado pela Convenção Batista do Norte (agora Batista Americana) e pastoreou três congregações. Ladd ensinou no Gordon College. Fez o Bacharel em Teologia pelo Gordon College (1933) em seguida, passou dois anos na Universidade de Boston antes de se matricular na Universidade de Harvard, onde foi supervisionado por Henry J. Cadbury e recebeu seu PhD em grego bíblico e patrístico, em 1949. Juntou-se ao corpo docente do Seminário Teológico Fuller em Pasadena, CA em 1950 onde permaneceu durante trinta anos de sua carreira acadêmica. Ladd teve um derrame em 1980, e morreu em 1982.






281 - Entre os dois testamentos: história e religião na época do segundo templo Johann Maier


Com o objetivo de estimular tanto a teologia bíblica como a teologia sistemática a uma valorização mais intensa, porém livre de unilateralidades teológicas do judaísmo intertestamentário, a presente obra é uma introdução ao judaísmo da época do Segundo Templo. Período que se estende de fins do século VI a.C. a 72 d.C., e que é assinalado por fenômenos importantes, tais como a formação do judaísmo, o estabelecimento do cânon das Escrituras hebraicas e o desenvolvimento do cristianismo primitivo. Após uma introdução, em que aborda algumas questões fundamentais, o autor trata o período pérsico, como base para o tempo helenístico-romano, e apresenta a situação linguística. A fim de dar ao leitor uma idéia da quantidade e da variedade das fontes, enumera os textos, refere uma relação bibliográfica de estudos importantes do ponto de vista da história das religiões e esboça os temas e objetivos dessas fontes, com que se pode obter uma primeira impressão das questões religiosas que movimentaram essa época. Em seguida descreve os acontecimentos históricos do tempo helenístico-romano, delineia os traços fundamentais, os grupos e as diversas correntes e tendências da religião judaica e faz referências às ligações do nascente cristianismo com o ambiente judaico. O conhecimento desse período é indispensável para a compreensão do Antigo e do Novo Testamento. Compreensão que só pode ser proveitosa se tomarmos conhecimento da chamada literatura intertestamentária, à qual pertencem também os chamados escritos deuterocanônicos, acrescentados à Bíblia hebraica. À primeira vista, o tamanho da obra e a extensão da bibliografia podem talvez parecer excessivos, isso, porém, explica-se pelo fato de quase meio milênio de história do judaísmo ser tratado em um só volume.
Obra excelente!
Loyola
P. 335

  
Johann Maier, nascido em 1933, estudioso austríaco do judaísmo, fez seu doutorado em judaísmo na Universidade de Viena. Foi o fundador e diretor por trinta anos do Instituto de Estudos Judaicos Martin Buber da Universidade de Colônia. Se aposentou em 1996. Ensinou judaísmo na Universidade de Berlim, 1963 e na Universidade de Frankfurt, 1969.








quarta-feira, 28 de outubro de 2015

280 - História de Israel: O Surgimento do Povo de Deus No Antigo Testamento, David Rubens



1  A Terra
Comparada as outras zonas do oriente próximo, como o Egito e Mesopotâmia, a Síria e a Anatólia, que no passado foram sedes de celebradas civilizações de grandes formações estatais, de metrópoles monumentais, a Palestina oferece um espetáculo decididamente modesto. Para o período do Bronze recente, quando o Egito e a Mesopotâmia podiam contar com alguns milhões de habitantes, a Palestina nem sequer chegava aos 250 mil habitantes.[1]
Todavia, esse país tão modesto em densidade humana desempenhou um papel de primeira importância nas vicissitudes históricas de grande parte do mundo.
Essa contradição se deve à extraordinária capacidade que tiveram os habitantes do país de unir entre si paisagem e memórias e, portanto, de carregar sua terra de valores simbólicos que depois numa sucessiva história de dispersão e focalização, de afastamento e retorno contribuiu para difundir amplamente também fora dele.
A paisagem está fortemente antropotizada, até os mais diminutos tornam-se base de memória e atestam a legitimação como unidade cortada em relação ao diferente que o circunda.
à     Um carvalho secular.
à     Um poço.
à     Uma caverna.
à     Uma ruína antiga.
à     Um túmulo de antepassados.
As expressões correntes “Terra Prometida” e “Terra Santa” mostram como uma dada região tenha podido tornar-se símbolo e valor sem nem sequer a necessidade de dizer o nome da terra”, porque todos já sabem qual é, sem que haja margem de equívoco.

2  As Cidades
Com o termo, cidade, se pretende designar assentamentos cuja população é diversificada por função e estratificada por renda, e que abrigam em seu interior um setor “público”, seja ele templo, palácio ou ambos.[2]
Na pobre Palestina as cidades do período do Bronze (a.C. 2800 – 1200) dificilmente superam os 3 ou 4 mil habitantes, e a situação não muda muito no segundo período do ferro (a.C. 900 – 600). Na cidade reside um “rei” em seu palácio (um edifício de uns mil metros quadrados) com uma roda de dependentes diretos:
à     Artesãos;
à     Guardas;
à     Servidores.
No território agrícola, a população está agrupada em vilas, que vão de meia dúzia de casas a umas cinquenta, no máximo.
A população se dividia, grosso modo, em uns 20% de dependentes palatinos, 20% de pastores e uns 60% de camponeses.

3  Assentamentos
Estepes áridas e montanhas cobertas de bosque eram deixadas para frequentação sazonal dos pastores de cabras e ovelhas, (com pastagens estivais nas colinas e invernais na planície). A integração entre agricultura e pastorícia é muito estreita e os próprios ritmos da transumância procuram respeitar os “encostamentos” com o uso agrícola do território. Agricultores e pastores habitam as mesmas vilas, unidades produtivas integradas, embora não totalmente homogêneas.

4  O Domínio Egípcio
Por cerca de três séculos (a.C. 1460 – 1170) a Palestina foi submetida ao domínio direto dos egípcios; alguma influência política egípcia já precede esse período e depois prosseguirá por muito tempo. O domínio egípcio teve um peso determinante em vários aspectos da vida política da região.[3]
O controle egípcio era em grande parte indireto e os “pequenos reis” locais conservavam sua autonomia (mas não independência) como “servos” e tributários do faraó.
Faraó exigia um juramento de submissão breve quanto absoluto (“jamais nos rebelaremos contra sua majestade”). E o juramento se concretizava em pagar um tributo anual, em hospedar os mensageiros e as caravanas egípcias de passagem, em conseguir as mercadorias solicitadas e também em ofertar princesas para o harém real acompanhadas de rico dote.[4] Todos os anos um regimento egípcio fazia o giro dos reinos palestinos para recolher tributos e outras mercadorias especificamente exigidas.
O Faraó era, com efeito, um deus distante, que os reis palestinos consideram bem inerte e omisso e, portanto, de difícil compreensão. As expectativas dos reis locais de obter de faraó um apoio contra seus inimigos, uma saída de suas dificuldades, ficavam sem resposta a sem efeito.[5]

5  As Cidades Palestinas
A capital, cercada de muros, tinha como centro o palácio real, residência do rei e de sua família, mas também sede de administração.[6]
A dependência do reino em relação ao rei assume duas formas bem distintas, a população está dividida em duas categorias:
à     Homens do rei: São privados de meios de produção próprios, trabalham para o rei e dele recebem como retribuição os meios de sustento.
à     População livre: que detém meios de produção próprios e dá ao rei uma cota da própria renda de produção sob a forma de taxa.

6  Organização da Cidade
Capital (em torno do palácio) = homens do rei.
Vilas = homens livres.
A população livre situa-se num nível médio, famílias que possuem um pouco de terra e de gado que lhes permite viver e se reproduzir; mas podem também entrar pelo caminho sem retorno do empréstimo a juros e de garantias pessoais, que levam à escravidão por débitos.

7  Os Homens do Rei
Homens do rei: Aristocracia militar, sacerdócio, escribas, administradores, artesões, guardas e servidores escravos que perderam a terra.[7]
Todos eles são juridicamente servos do rei, mas os modos e a medida da retribuição são diversos e determinam situações de fato muito diferentes. Encarregados dos carros, escribas, mercadores podem acumular substanciosas riquezas, sobretudo sob a forma de terras a eles concedidas pelo rei.
A transmissão da realeza sugue as normas em uso para a transmissão hereditária. Não há distinção entre o primogênito e o segundo filho, a herança irá para quem tiver “honrado” os pais, a quem, enfim, a tiver merecido. O Reino não pode ir senão para um dos filhos do rei anterior. Os textos da época estão cheios de disputas entre irmãos, de usurpações, até casos de fratricídio e de parricídio.

8  O Templo
Os templos são lugares de rico entesouramento. Os sacerdotes são classificados entre os “homens do rei”. Os rituais têm o rei como ator protagonista, servem para o creditar junto a população como avalista da correta relação com o mundo divino.

9  Vilas
A maioria da população (uns 80%) vive nas vilas, com os próprios meios de produção: terras de propriedade familiar e rebanhos de cabras e ovelhas.
A vila é uma unidade estabelecida de modestas dimensões, mas também uma unidade parental (clã) e uma unidade de decisão. Sobre a dimensão considerada “Vilas”, grupos de casas de um mínimo de duas/três a um máximo de oitenta, com uma média de 25 casas (e cem habitantes).
A população está subdividida entre uma maioria de “casas” de camponeses “livres” e de “pastores”, e uma minoria de servos do rei.[8]
A vila é administrada por um conselho de “anciões” ou “pais”, ou seja, os chefes de família mais respeitáveis e ali enraizados.
Vimos que fazem parte das vilas grupos pastoris, para administrar a criação caprina segundo a prática da transumância que leva a situações típicas que vêem o mesmo grupo reunido ou disperso, conforme as estações.[9]
Pastores e camponeses coexistem, pois, na época da concentração e devem ter em comum a frequentação de lugares “sagrados”, normalmente conexos a antigos túmulos de antepassados e a carvalhos seculares, como lugares em que a divindade pode se manifestar e onde lhe são oferecidos sacrifícios sobre altares a céu aberto. Essa tipologia é bem conhecida pelas histórias patriarcais: o carvalho de Mamre (Gn. 13.18; 14.13; 18.1, 25. 9-10), com os túmulos de Abraão e Sara e depois de Isaac (35.27) e de Jacó (50.13), o carvalho de More (12.6), em que Javé se manifesta a Abraão.[10]

10  Os Nômades “Externos”
Os textos do Bronze recente mostram também autênticos nômades “externos”, definidos com termos não geográficos, nas coletivas, dirse-ia tribais. Sua principal área de atividades são as estepes do Sul e do Leste, às margens do deserto; mas são encontrados também nos altiplanos centrais. A presença deles é vista como perigosa para quem deve atravessar aqueles territórios: o palácio não tem autoridade sobre essas tribos externas, salvo assalariar alguns efetivos deles como guia ou como escolta.

11  As Tensões Sócio-Econômicas
O Bronze recente é um período de fortes tensões sócio-econômicas, provocadas, sobretudo pelo processo de endividamento da população camponesa e pela atitude muito dura e proposital por parte do rei. As dificuldades econômicas induzem os camponeses “livres” a conseguir trigo em troca de penhores materiais, especialmente terras e depois de garantias pessoais: mulheres e filhos se tornam servos do credor, numa servidão teoricamente temporária, salvo quando se torna permanente na impossibilidade de pagamente do débito. O último estágio, quando o devedor deve dar-se a si mesmo como escravo, fecha o ciclo pela impossibilidade de recuperação: o desesperado prefere por isso, em muitos casos, pôr-se em fuga.
Aos camponeses endividados não resta senão a fuga, para os espaços de difícil controle que são as montanhas cobertas de bosques e as estepes pré-desérticas. Aqui os grupos de refugiados podem se organizar e se unir de algum modo com os clãs pastoris. Esses grupos de gente afastados do próprio contexto social de origem e refugiados em outras partes são definidos como habiru; o termo tem uma conexão etimológica e semântica com os mais antigos atestações do termo “hebreus” (ibri), antes que eles assumisse valores étnicos . O termo habiru, tem uma conotação técnica de “foragido”, no sentido de “fora da lei”, “rebelado contra a autoridade legítima”.[11]
Os habiru em sua maioria são pessoas de baixo nível social, marginalizados mais por motivos econômicos que políticos, e que encontram refúgio em ambientes marginais, ou muitas vezes se solidarizam com os nômades ou para servir como tropas mercenárias ou para se entregar ao banditismo.[12] Os mais alarmados dos reis cananeus temem que os próprios camponeses endividados, mas que ainda permaneciam no lugar, possam se solidarizar com os habiru, e que dessa união brotem sangrentas revoltas.      

“Se os camponeses desertam, os habiru tomarão a cidade”.

A atitude dura dos reis cananeus em assunto econômico produz, portanto, um notável descontentamento da população de base agropastoril em relação ao palácio.

12  Crise e Local: Etnogenia de Israel.
Principais teorias que se sucederam e se confrontaram sobre a origem de Israel:
1 – A teoria da conquista “Militar”, compacta e destrutiva, de direta inspiração bíblica, é ainda afirmada em alguns ambientes tradicionalistas.
2 – Prevalece hoje a idéia de uma ocupação progressiva, nas duas variantes (mais complementares do que exclusivas entre si) da sedentarização de grupos pastoris já presentes na área e da infiltração do adjacente pré-deserto.
3 – Teoria (chamada “sociológica”) da revolta camponesa, que privilegia totalmente o processo por linhas internas sem contribuições externas, essa teoria é atualmente mal vista, por motivos às vezes declaradamente políticos.


David Rubens de Souza



[1] LIVERANI, Mario. Para Além da Bíblia: História Antiga de Israel. São Paulo: Paulus, 2008. p. 30.
[2] Ibidem, p. 32.
[3] Ibidem, p. 36.
[4] Ibidem, p. 39.
[5] Ibidem, p. 42.
[6] GASS, Ildo Bohn. Uma Introdução a Bíblia: Formação do Povo de Israel. São Paulo: Paulus, 2002. p. 19. (O livro de Bohn Gass é muito bom, explicação detalhada sobre as Cidades-Estado e na página 20 tem um mapa detalhado que facilita a compreensão das cidades).
[7] LIVERANI, Mario. Para Além da Bíblia: História Antiga de Israel. São Paulo: Paulus, 2008. p. 43.
[8] Ibidem, p. 48.
[9] ZENGER, Erich. O Deus da Bíblia: Estudo Sobre os Inícios da Fé em Deus no Antigo Testamento. São Paulo: Paulinas, 1989. p. 34. (Boa explicação sobre o modo de vida dos beduínos.)
[10] LIVERANI, Mario. Para Além da Bíblia: História Antiga de Israel. São Paulo: Paulus, 2008. p. 50.
[11] Ibidem, p. 54.
[12] VV. AA. Israel e Judá: Textos do Antigo Oriente Médio. São Paulo: Paulus, 1995. p. 35. (Excelente explicação sobre os habirus).

Tradução: Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. parte do artigo 1 da Declaração Universal dos Direitos Humanos.