segunda-feira, 27 de outubro de 2014

165 - Paul Tillich

Paul Johannes Osckar Tillich nasceu em Starzeddel (atualmente Starosiedlle, Polônia), na antiga Prússia Oriental, em 20 de agosto de 1886. Filho de um pastor luterano, inclinou-se desde o início para a Teologia tendo realizado a sua graduação em Berlim depois de ter passado também por Halle e Tübingen. Foi nessa última cidade que ele começou a desenhar o seu sistema. Em 1909 realiza os primeiros exames teológicos e é admitido como aspirante ao ministério em Lichtenrade ao mesmo tempo em que prossegue seus estudos em Filosofia, obtendo no ano seguinte o doutoramento pela Universidade de Breslau. Entre 1911 a 1914 exerce o vicariato em Nauen e após a ordenação é designado para Berlim como pregador assistente na Igreja do Redentor no subúrbio berlinense de Moabit, ao mesmo tempo em que se licencia em Teologia por Halle. Com a Primeira Guerra Mundial (agosto, 1914), segue como capelão voluntário para o setor francês da Frente Ocidental. Ali, sentiu o choque da destruição de todos os valores – sociais, culturais e religiosos – de sua época, o fim o otimismo ingênuo e progressista da Europa burguesa.
No ano seguinte, em Verdun, o jovem pastor sentiu que realmente o mundo teológico concebido pela Teologia Liberal do século XIX já não poderia mais oferecer respostas factíveis para as necessidades existenciais do homem moderno. Assim como em Barth, a guerra causou um efeito moral e existencial devastador em Tillich, mas com contornos infinitamente mais dramáticos.

Terminada a guerra, Paul Tillich que havia conseguido a sua habilitação em Teologia pela Universidade de Halle, permitindo-o assim ingressar na carreira universitária, torna-se livre docente na Universidade de Berlim onde atua de 1919 a 1924, sendo mais tarde designado para a Universidade de Marburgo a fim de substituir o teólogo sistemático Rudolf Otto nessa disciplina. A experiência embora curta (três semestres), foi no entanto muito profícua pois Marburgo contava nessa época com uma equipe notável de docentes que incluía Martim Heidegger na Faculdade de Filosofia e Rudolf Bultmann na Teologia, exercendo ambos uma influência perene em seu fazer teológico e filosófico ao longo dos anos seguintes. De 1925 a 1929 vai para a Saxônia onde trabalha como professor de Ciências da Religião na Escola Técnica Superior da Saxônia em Dresden e como professor extraordinário de Filosofia da Religião e da Cultura na Universidade de Leipzig. Nesse último ano vai para Frankfurt-sobre-Meno onde, desta vez como catedrático, atua como docente em Filosofia e Sociologia da universidade local. Com a chegada dos nazistas ao poder, Tillich é demitido do sistema universitário, ainda teve a desagradável experiência de ver um dos seus livros, A Decisão Socialista, ser queimado em público pelos nazistas em 1933, vai então para os EUA onde atua no Union Theological Seminary de Nova York (como leiturer de 1933 a 1937, passando depois a Associate Professor de 1937 a 1940, e finalmente para a docência plena de 1940 a 1955), ao mesmo tempo em que leciona (1933-1934) na Universidade de Colúmbia, também em Nova York. Cidadão norte-americano desde 1940, em 1955 aceita o convite para lecionar em Harvard onde permanece até 1962 quando se transfere para a Faculdade Teológica Federada de Chicago, onde a morte o surpreende ainda no exercício de suas funções docentes, em 22 de outubro de 1965.

Teologia Sistemática
Este livro de Tillich é a compilação dos três volumes correspondentes ao conjunto do seu trabalho sistemático, tratando das questões básicas do ser, da existência e da vida. 

"Certamente os três volumes de minha Teologia Sistemática não teriam sido escritos se eu não estivesse convicto de que o evento que deu origem ao cristianismo possui um significado central para toda a humanidade tanto antes como depois dele. Mas o modo como se pode compreender e receber este evento muda com a transformação das condições em cada período histórico. Por outro lado, esta obra tampouco teria sido escrita, se eu não tivesse tentado, durante a maior parte da minha vida, penetrar no significado dos símbolos cristãos, que se tornaram cada vez mais problemáticos no contexto cultural do nosso tempo. Como a cisão entre uma fé inaceitável para a cultura e uma cultura inaceitável para a fé era inaceitável para mim, a única alternativa foi tentar interpretar os símbolos da fé com expressões de nossa própria cultura. O resultado desta tentativa são os três volumes da Teologia Sistemática" (Da Introdução ao volume 3).

O pensamento de Tillich sempre se deu na fronteira, como ele mesmo descreve. Esta fronteira significa o espaço-limite entre as disciplinas, mas também a interface fecunda entre as mesmas. Trata-se  de um pensamento rico e complexo, multi e interdisciplinar, e que já antecipa surpreendentemente muito da atual discussão sobre inter e transdisciplinaridade. Seu sistema das Ciências (1923) tenta organizar o conjunto das disciplinas científicas de uma forma inovadora e criativa. Sua Teologia sistemática apresenta uma imensa e complexa trama contendo uma interpretação abrangente e transdisciplinar da realidade vista como um todo. O livro é uma revisão completa da antiga tradução portuguesa da Teologia Sistemática de Paul Tilluch. Várias inadequações, tanto de tradução como de revisão editorial, tornaram premente uma nova edição totalmente revisada desta que é uma das principais obras teológicas da história do cristianismo (Do Prefácio à nova edição portuguesa).

Estilo de Normalizar Citação De Acordo com as Normas da ABNT para Trabalhos Acadêmicos.
RUBENS, David. Paul Tillich. http://biblicoteologico.blogspot.com.br/2014/10/paul-tillich.html. Acesso em: _____________.

164 - Friedrich Nietzsche

Muitas vezes mal interpretado como filósofo, ora em função de seu estilo poético, ora devido à exploração pelo nazismo de certos aspectos de seu pensamento, Nietzsche, na verdade, foi um dos críticos mais agudos da religião, da moral e da tradição filosófica do Ocidente. Nessa condição, influenciou filósofos, teólogos, psicólogos e escritores do século XX.
Friedrich Wilhelm Nietzsche nasceu em 15 de outubro de 1844 em Röcken, na Saxônia prussiana. Filho e neto de pastores protestantes, perdeu prematuramente o pai em 1849 e ficou aos cuidados da mãe, da avó e da irmã mais velha. Em 1858 obteve uma bolsa de estudos para a escola de Pforta e em 1864 ingressou na Universidade de Bonn, para estudar teologia e filologia. Transferiu-se em 1865 para a Universidade de Leipzig, por indicação do mestre Friedrich Wilhelm Ritschl, graças a quem, ainda aos 25 anos, Nietzsche foi contratado pela Universidade de Basiléia como catedrático de filologia clássica.
Nessa fase, compôs obras musicais à maneira de Schumann, fez amizade com Richard Wagner e conheceu a filosofia de Schopenhauer. Em 1870, durante a guerra franco-prussiana, Nietzsche serviu como enfermeiro voluntário e um mês depois, muito doente, teve de voltar a dar aulas. Em 1872 publicou Die Geburt der Tragödie aus dem Geiste der Musik (O nascimento da tragédia no espírito da música), que antecipa as linhas essenciais de seu pensamento e tornou-se um clássico na história da estética. Nesse livro, Nietzsche sustenta que a tragédia grega teria surgido da fusão de dois componentes: o apolíneo, que representava a medida e a ordem, e o dionisíaco, símbolo da paixão vital e da intuição. Sócrates, ao impor o ideal racionalista apolíneo, teria causado a morte da tragédia e a progressiva separação entre pensamento e vida. As dez últimas seções constituem uma rapsódia sobre o renascimento da tragédia a partir do espírito da música de Wagner.
Em suas obras seguintes, como Unzeitgemässe Betrachtungen (1873-1874; Considerações inatuais), em que exalta o pessimismo de Schopenhauer, e Menschliches, Allzumenschliches (1878; Humano, demasiado humano), em que se mostra convertido ao Iluminismo e faz os primeiros ataques à moral cristã, Nietzsche expõe algumas de suas idéias mais contundentes, desenvolvidas ainda em Die Fröliche Wissenschaft (1882; A gaia ciência), Jenseits von Gut und Böse (1886; Para além do bem e do mal) e Zur Genealogie der Moral (1887; Sobre a genealogia da moral), em aforismos brilhantes e demolidores.
Com frequentes e fortes dores de cabeça, enxergando pouco, o filósofo foi obrigado a aposentar-se. Daí em diante levou vida itinerante e de isolamento crescente na Suíça, na Itália e na Riviera francesa. De 1883 a 1891 publicou as quatro partes de sua obra principal, Also Sprach Zarathustra (Assim falou Zaratustra), de estilo bíblico e poético, entre o dos pré-socráticos e o dos profetas hebraicos. Sob a máscara do lendário sábio persa, anuncia sua filosofia do eterno retorno e do super-homem, que derrotariam a moral cristã e o ascetismo servil. O livro póstumo Der Wille zur Macht (A vontade de potência) organizado pela irmã, Elizabeth Förster Nietzsche, reúne arbitrariamente notas e rascunhos, nem sempre fiéis às idéias do autor. É autêntica, porém, a autobiografia espiritual Ecce Homo, escrita em 1888.
O vigoroso espírito crítico de Nietzsche incidiu especialmente sobre a ética cristã: para esta, o bom é o humilde, pacífico, adaptável; e o mau é o forte, enérgico e altivo. Para Nietzsche, essa é a moralidade tanto de senhores quanto de escravos. O valor supremo que deve nortear o critério do que é bom, verdadeiro e belo é a vontade de potência: é bom o que vem da vontade de potência, é mau o que vem da fraqueza. O homem aspira à imortalidade, mas esse conceito nada significa, já que a realidade se repete a si mesma num devir que constitui o eterno retorno. O homem só se salva com a aceitação da finitude, pois se converte em dono de seu destino, se liberta do desespero para afirmar-se no gozo e na dor de existir. O futuro da humanidade depende dos super-homens, capazes de se sobrepor à fraqueza, e não da integração destes ao rebanho.
Em janeiro de 1889, Nietzsche sofreu um grave colapso nas ruas de Turim e perdeu definitivamente a razão. Ao ser internado em Basiléia, diagnosticou-se uma “paralisia progressiva”, provavelmente em consequência de infecção sifilítica contraída na juventude. Passou os últimos dez anos de vida na casa da mãe e, com a morte desta, na da irmã. Nacionalista alemã fanática, Elizabeth escreveu volumosa biografia sobre o irmão em que, a serviço dos ideais chauvinistas, lhe deturpou os fatos biográficos e as opiniões políticas, atribuindo caráter nacionalista às investidas de Nietzsche contra os valores cristãos e seus conceitos de vontade de poder e super-homem. Nietzsche, na verdade adversário do nacionalismo e do anti-semitismo, morreu em Weimar, em 25 de agosto de 1900.

Bibliografia Básica para o estudo de Nietzsche   

NIETZSCHE, Friedrich. O Nascimento da Tragédia (tradução de J. Guinsburg); São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
____________ Considerações Intempestivas (tradução de Lemos de Azevedo), Lisboa: ditorial Presença – Livraria Martins Fontes, 1976.
_____________ O Livro do Filósofo (Tradução de Rubens Eduardo Ferreira Frias); São Paulo: Centauro, 2001.
_____________ Escritos sobre Educação(Tradução de Noéli Correia de Melo sobrinho); Rio de Janeiro- São Paulo: Editoras Loyola e Editora PUC-RIO, 2003.
_____________ Cinco Prefácios para Cinco Livros não Escritos (Tradução de Pedro Sussekind); Rio de Janeiro: Sete Letras, 1996.
_____________ Humano Demasiado Humano (tradução de Paulo Cezar de Souza). São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
_____________ A Gaia Ciência (tradução de Paulo César de Souza). São Paulo: Companhia das Letras, 1ª ed. 2001.
_____________ Assim falou Zaratustra (tradução de Mário da Silva). São Paulo: Civilização Brasileira, 1977.
_____________ Além do Bem e do Mal (tradução de Paulo César de Souza). São Paulo: Companhia das Letras , 2ª ed. 2002.
_____________ Genealogia da Moral (tradução de Paulo César de Souza). São Paulo: Companhia das Letras , 1999.
_____________O caso Wagner/Nietzsche contra Wagner (tradução de Paulo César de Souza). São Paulo, Companhia das Letras, 1999.
_____________ Ecce Homo. São Paulo: Ediouro, 1998.
_____________ O Anticristo. Lisboa, Guimarães Editores, 1997.
_____________ Crepúsculo do Ídolos. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2000.
_____________ Fragmentos Finais (tradução e organização de Flávio Kothe) Brasília: Editora UNB, 2002.



Estilo de Normalizar Citação De Acordo com as Normas da ABNT para Trabalhos Acadêmicos.
RUBENS, David. Friedrich Nietzsche. http://biblicoteologico.blogspot.com.br/2014/10/friedrich-nietzsche.html. Acesso em: _____________.


Tradução: Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. parte do artigo 1 da Declaração Universal dos Direitos Humanos.